LEI DA DESMORALIZAÇÃO
Por José Luís Portella, no Jornal Lance!
Vem mais uma tunga por aí.
Deve ser com o Banco do Brasil.
Grana do Papai Estado.
Cartolas que têm acesso a Lula trabalham em mais um ato: o Banco do Brasil, provavelmente, absorveria as dívidas dos times e as refinanciaria em condições amigáveis por 30 anos ou mais.
Certo estava Márcio Braga quando acalentava a Timemania: “Vamos nessa que depois vem outra”.
Ou seja, mais uma vez os times parcelavam suas dívidas e, depois, novamente deixariam de pagar os impostos e pediriam outro parcelamento.
Uma festa, como em vezes anteriores.
A tese é simples: clube é patrimônio cultural e nunca será fechado.
Com esse argumento malandro de sapato branco constroi-se a história da pendura futebolística.
A mágica que querem empurrar para o Banco do Brasil não é muito diferente do que aconteceu com os bancos americanos que quebraram recentemente na orgia do subprime
.
Se até os economistas neoliberais atacaram esse apelo desaforado ao Papai Estado na Meca do capitalismo, imagine a reação dos economistas desenvolvimentistas brasileiros que ostentam em seus currículos o repúdio a esse modo dos banqueiros procederem: “Governo só atrapalha; a menos quando nos salva da falência”.
É a mesma festa da ganância irresponsável.
Lá, ninguém aguentava ter lucro menor que o concorrente e botava o pé na lama de um crédito bem podre.
Aqui, os clubes procedem igualmente.
“Se o co-irmão faz, temos que fazer”, diz o diretor de futebol, docemente constrangido, sustentado pelo ledo presidente.
Na Timemania, que assimilou até apropriação indébita, dinheiro desviado pelos cartolas, negociava-se a dívida dos times com o Governo.
Agora é a dívida privada feita com a máscara negra do cartola.
Segundo ato: a atual mudança, na Câmara Federal, da chamada Lei de Moralização.
Cartola não responde mais por endividamento.
Em toda atividade comercial, como é a indústria do entretenimento, onde militam os clubes de futebol, ou se é empresa ou se responde com os próprios bens nas transações, para dar segurança aos agentes parceiros.
O futebol será a exceção.
Uma desmoralização.
Para disfarçar, enfiaram o termo “gestão temerária”, que é crime só previsto para o sistema financeiro.
Ou seja, inventaram algo inócuo.
Férias morais.
Com o terceiro ato que vem aí – o Banco do Brasil a premiar gestores irresponsáveis que manipulam a paixão do torcedor –, nada ficamos devendo aos banqueiros de Tio Sam. Aliás, os superamos.
Papai Estado vai bancar a folia privada dos clubes.
“Que bom te ver outra vez. É carnaval.”